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sexta-feira, 20 de julho de 2007

Debate em São José discute situação do Hati sob ocupação de tropas brasileiras

Um debate, realizado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), na noite desta quinta-feira, dia 19, abordou a visita da delegação da Conlutas ao Haiti e a situação do país, que enfrenta a ocupação militar das tropas da ONU, sob o comando do Exército Brasileiro.

Estavam presentes no debate o coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos Valdir Martins (foto à esquerda abaixo), os aposentados Francisco Cabral e José Nunes, a advogada e militante do PSTU Nícia Bosco e o jornalista Rodrigo Correia.

Todos eles estiveram no Haiti, de 27 de junho a 3 de julho, numa missão de solidariedade aos trabalhadores haitianos que exigiu a imediata saída das tropas brasileiras de lá.

Houve exibição de fotos e vídeos da delegação, que expôs, durante mais de duas horas, a realidade do povo e os efeitos da invasão de tropas estrangeiras contra aquela nação.

Toninho falou da história do Haiti desde a sua independência, em 1804. O Haiti é o único país a ter uma revolução de escravos vitoriosa, que acabou decretando o fim da colonização francesa.

Foram relatados os vários golpes, ocupações estrangeiras e ditaduras sofridas pelos haitianos desde 1804. Todos estes fatos foram e são os causadores do atual estado de miséria daquele país, que é o mais pobre das Américas.

"As tropas brasileiras, junto com as outras, cumprem um papel de deter o processo de autodeterminação dos haitianos, o que tem ocorrido sistematicamente ao longo da história desse povo lutador", disse Toninho.

"As tropas reprimem a população e a organização dos trabalhadores e, em vários casos, violam os direitos humanos. Além disso, a presença dos militares estrangeiros perpetua um projeto de exploração daquele povo, que visa tornar o Haiti um território de mão-de-obra semi-escrava e que garanta muitos lucros aos capitalistas e grandes potências", acrescentou Toninho.

Outros debates sobre o Haiti estão acontecendo, como o que ocorreu recentemente no Rio de Janeiro, na sede do Sepe (sindicato dos profissionais e funcionários da educação).

terça-feira, 10 de julho de 2007

Batay Ouvriye é perseguida pela Minustah e pelo governo após a visita de brasileiros

"A Batay Ouvriye quer comunicar a todos que, desde a visita de uma delegação de sindicalistas brasileiros convidados por nós para que conhecêssemos amplamente suas posições sobre a ocupação, a exploração e a dominação vigentes em nosso país, tem sido proferidas ameaças e intimidações contra nossa organização.

De fato, mesmo antes da saída da delegação, em Cap-Haitien, no dia seguinte à recepção destes camaradas e amigos do Brasil pelos trabalhadores da cidade do Norte, um grupo de aproximadamente dez bandidos, certamente enviados, armados com facões, cacetetes e pistolas, chegaram, tarde da noite, em nosso local para nos insultar. Trataram de adentrar no local, o que claramente parecia ser um ataque aos camaradas que estavam ali. Como não conseguiram seu objetivo, formaram uma confusão para nos intimidar e nos ameaçaram com represálias.

Em Porto Príncipe, na manhã que seguiu ao encontro organizado em Cité Soleil, com os mesmos fins, pelos trabalhadores de Batay Ouvriye da região, dois carros da Minustah estacionaram em frente a nossa sede ali localizada.

Responsabilizamos tanto as autoridades desta força de ocupação – a Minustah – como as autoridades haitianas, as duas em estreita coordenação com estas forças obscuras e que, tendo nos recebido, estavam perfeitamente a par de nossas atividades com a delegação brasileira."

Comunicado da Batay Ouvriye

A Conlutas assina embaixo, e ainda responsabiliza a embaixada brasileira no Haiti, que está ciente de todos estes incidentes.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Veja algumas imagens de momentos da delegação da Conlutas que visitou o Haiti

Veja este clipe com alguns momentos da delegação da Conlutas que visitou o país caribenho e exigiu a retirada das tropas brasileiras de lá:



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quinta-feira, 5 de julho de 2007

Veja vídeo com trecho da leitura da Carta ao Povo do Haiti, em Cité Soleil



Esta reunião aconteceu no dia 1º de julho de 2007, em Cité Soleil, na capital do Haiti: Porto Príncipe.

Ouça a entrevista que Toninho, da delegação da Conlutas, nos concedeu ainda no Haiti

Momentos antes de retornar ao Brasil, no dia 3, a delegação concedeu algumas entrevistas no Haiti. Esta entrevista foi feita com o coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, na sede da Batay Ouvriye ("Batalha Operária").

Clique aqui e ouça esta entrevista (baixe o arquivo, que está em mp3).

Entrevista coletiva sobre a delegação ao Haiti é nesta quinta

Companheiros e companheiras,

Comunicamos que a delegação de companheiros que visitou o Haiti, com a missão de prestar solidariedade aos trabalhadores haitianos e aumentar a pressão pela retirada das tropas brasileiras de lá, retornou ao Brasil ontem.

Dentre as atividades previstas para o retorno da delegação, estamos programando uma coletiva de imprensa com uma pequena recepção na sede da Conlutas Nacional. Durante a recepção realizaremos uma entrevista ao vivo, que será transmitida pela Rádio Movimento. Para ouvir a rádio basta clicar no banner que estará disponível no site da CONLUTAS (http://www.conlutas.org.br/) ou no site da rádio (http://www.radiomovimento.net/).

A participação dos companheiros e companheiras é muito importante para nós.

Data: 05/07/07
Horário: a partir das 15 horas
Local: Auditório da Conlutas Nacional
Pça. Pe. Manoel da Nóbrega, 36 - 6º andar
Sé (próximo ao Pátio do Colégio).

Mais informações:
Assessoria de Imprensa da CONLUTAS
assessoria@conlutas.org.br
(11) 3107-7984, (11) 8419.2696

terça-feira, 3 de julho de 2007

Delegação cumpre sua missão no Haiti, diz fora às tropas e retorna nesta quarta ao Brasil

Começo a escrever este texto às 15h50, no fuso horário do Haiti, ou seja, às 17h50 em terras brasileiras. Estou dentro do avião que nos levará a uma conexão ao Panamá. De lá, o destino será o Brasil. A delegação da Conlutas deixa o país caribenho com um sentimento de dever cumprido, mas com a consciência de que muito trabalho ainda precisa ser realizado: a campanha pela retirada das tropas brasileiras do Haiti precisa se intensificar em nossos sindicatos, organizações e junto aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.

Participamos de reuniões com autoridades (inclusive o presidente René Préval), nos encontramos com trabalhadores do campo e da cidade, visitamos locais históricos e conhecemos a cultura haitiana e a sua riqueza. Por outro lado, vimos o inverso na questão sócio-econômica. A miséria é uma gravíssima situação no país mais pobre das Américas.

Com o presidente Préval e o embaixador brasileiro, nossa delegação enumerou argumentos e exigiu o imediato fim da ocupação militar estrangeira no Haiti.

Proximidade com os trabalhadores
Apesar dos encontros com as autoridades, o maior mérito da delegação foi o de estar junto com os trabalhadores haitianos em diversas oportunidades. Ouvimos suas queixas a respeito dos ataques aos seus direitos e à desumana exploração de sua mão-de-obra. Sentimos nestes trabalhadores uma força muito grande, de resistência à toda exploração perpetrada pelas grandes potências capitalistas, ditaduras e ocupações estrangeiras.

“O Haiti, que foi o único país das Américas a fazer uma revolução de escravos e conquistar sua liberdade frente aos colonizadores franceses, precisa declarar a sua segunda independência. E nós, da Conlutas, estamos nessa luta com os trabalhadores haitianos”, disse o coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho.

Partilha da experiência
Creio que muita coisa precisa ser partilhada pelos 20 componentes da delegação. Isso deve ser feito em suas entidades, organizações, universidades, na militância política e em todo o lugar.

A nossa delegação deve chegar às 6h, desta quarta (dia 4), no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. No desembarque, traremos conosco experiências que marcaram nossas vidas.

(fotos: Wladimir de Souza)

Delegação reforça exigência pela retirada das tropas e conhece mais da cultura haitiana

A delegação da Conlutas, que foi ao Haiti exigir a saída das tropas brasileiras do país, participou, nesta segunda-feira e penúltimo dia de nossa visita, de um debate com organizações de direitos humanos.

O encontro se realizou num auditório cedido pela Igreja Católica local. Os membros da delegação reafirmaram a posição de exigir a retirada das forças militares que oprimem o povo e fazem o jogo dos países imperialistas, que querem explorar, de forma muito contudente, a mão-de-obra pobre do Haiti.

Algumas pessoas presentes ao debate defenderam que as tropas devem ficar no país por mais algum tempo, pois o país precisava da força de “estabilização”.

O coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira rebateu essa argumentação em seu discurso. "Se ocupação militar resolvesse os problemas do povo, o Haiti seria o país mais rico das Américas", disse Toninho, numa referência às várias ocupações e ditaduras instauradas pelo imperialismo no país desde a sua independência.

"A dita estabilidade que muitos justificam a ocupação é a estabilidade em benefício dos grandes neoliberais, que querem explorar ainda mais os trabalhadores deste país. O presidente René Préval demonstrou, quando o encontramos, qual é a sua posição sobre a exploração de seu povo. Ele simplesmente se escondeu embaixo da mesa", disse Karina Oliveira, diretora do Sindicato dos Químicos de São José dos Campos e componente da delegação, a respeito do gesto inusitado do presidente haitiano durante a reunião com os membros, no dia 28.

Vodu e cultura haitiana
Depois do debate, fomos fazer uma atividade muito esperada pelos membros da delegação. Fomos a um templo vodu e participamos da empolgante celebração, familiar a boa parte do povo haitiano.

Quando falamos de vodú, muitos pensam, por culpa da indústria cultural de Hollywood, em alguém espetando um bonequinho com fins malignos. Pelo que vimos, é totalmente o oposto. Foi uma celebração de integração dos povos haitiano e brasileiro, com frisou o professor José Geraldo Correa Junior, da Apeoesp São Paulo, pela Oposição Alternativa.

O vodu é uma celebração parecida com os cultos afro-brasileiros, como o candomblé brasileiro. Um ritual envolvente, no qual a delegação participou entusiasmada. Uma das músicas cantadas em criole (língua da maioria do povo haitiano) dizia: "Irmãos, irmãos. Somos todos irmãos".

Neste ambiente de integração e acolhimento, tivemos contato com uma celebração que, muito mais do que meramente religiosa, é estritamente cultural. Faz parte e foi construída com a história do povo do Haiti.

Compromissos do último dia
Nesta terça, dia em que pegamos o avião de volta ao Brasil, teremos ainda agenda a cumprir. A delegação vai se dividir em coletiva de imprensa e entrevistas para rádios locais. Outros componentes vão conversar com o embaixador chileno no Haiti (claro, com a mesma linha de defender a retirada das tropas estrangeiras do país).

(Fotos: Wladimir de Souza)

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Em dia de Seleção, trabalhadores de Cité Soleil reúnem-se com nossa delegação

Domingo foi mais um dia de acordar bem cedo. Saímos de Cap-Hatien em direção à capital Porto Príncipe. O objetivo era o de visitar a maior favela da cidade, a Cité Soleil (Cidade do Sol, em português).

Como na sexta (quando fizemos a viagem de ida), os buracos na estrada, as pessoas muito carentes e o sol forte estavam presentes. A correria é muito grande, principalmente para a equipe de comunicação da Conlutas, que cobre os passos da delegação, fotografa, entrevista, escreve textos e alimenta este blog. Hoje foi um dia recorde.

Para se ter uma idéia, como em Cap-Hatien não tínhamos acesso à internet, tive que postar o penúltimo post no andar de cima do restaurante onde comemos. Desnecessário mencionar em qual ritmo fizemos as duas coisas.

Antes de chegarmos a Cité Soleil, vimos vários tanques das tropas da ONU, com soldados com armas nas mãos e prontos para cumprirem sua dita “missão de paz”.

Cidade do Sol
Por volta das 16 horas, chegamos na entrada de Cité Soleil, lugar ainda mais pobre do que aqueles que havíamos visto. Participamos de um encontro organizado pela “Batalha Operária”, organização haitiana que nos recebe.

No local, 250 pessoas se espremiam para participar de uma reunião com os membros de nossa delegação. A sala da reunião estava completamente tomada, mesmo com o fato de o jogo da Seleção Brasileira, muito querida pelos haitianos, começar dali a poucos minutos.

No encontro, a delegação se apresentou, leu a “Carta ao Povo do Haiti” e reiterou a exigência pela retirada imediata das tropas brasileiras do país. Muitas mulheres e crianças estavam presentes. Estas últimas sempre com um olhar curioso em direção aos membros da delegação, sobretudo os brancos, que são notados com extrema facilidade num país em que a maioria absoluta da população é da raça negra.

Jogo do Brasil
Ainda sobre isso, notei que algumas pessoas me olhavam com certa desconfiança, sobretudo quando fui andar um pouco pelo bairro. Considero algo plenamente justificável, até porque são os soldados (em sua maioria, brancos) que invadem o local com carros blindados e espalham o terror contra a população local.

Talvez tenha sido apenas uma coincidência ou uma armadilha gerada pela falta de conhecimento da língua e costumes locais. No entanto, se for real a minha impressão, analiso que a repulsa às tropas estrangeiras no país é um sentimento que se solidifica entre os haitianos.

Na continuação do meu “passeio” pelo bairro, vi uma meia duzia de crianças jogando futebol no chão de terra. A poeira se levantava a cada drible dos meninos em busca do gol, cada qual demarcado com dois pedregulhos no chão.

Com um companheiro da “Batalha Operária”, entrei no quintal da casa de um morador que tinha televisão e energia elétrica (possivelmente, conseguida por meio de um gerador). Em outros posts, já havia mencionado que luz elétrica no Haiti é garantida só para os ricos.

O anfitrião recebia em seu quintal mais de trinta pessoas, que acompanhavam atentos aos lances da vitória do Brasil sobre o Chile, na Copa América. Os haitianos gostam muito do Brasil, torcem pela nossa seleção de futebol e são fãs de Ronaldinho e Kaká. É lamentável que justamente o país verde-e-amerelo seja quem comanda as tropas estrangeiras que os oprimem. Esperamos que este jogo vire logo.

(fotos: Rodrigo Correia)




A exploração sem limites nas “maquiladoras”

No sábado, dia 30, depois de visitarmos a “Cidadela”, fomos para uma reunião com 100 trabalhadores em Ouanaminthe, onde está localizada a primeira zona franca do Haiti. Conversamos com os trabalhadores sobre a nossa luta pela retirada das tropas brasileiras do seu país (propósito da viagem de nossa delegação) e sobre a exploração cruel a que eles são submetidos.

A criação de zonas francas faz parte de um plano que interessa muito às grandes potências e aos Estados Unidos. Nada menos que um total de 18 estão programadas para serem criadas. Nelas, estão instaladas as “maquiladoras”, empresas multinacionais que desfrutam de vários benefícios fiscais e exploram os trabalhadores de forma semelhante à escravidão.

A fábrica Codevi é um exemplo. Ela fabrica jeans para marcas famosas como a Levis e a Wrangler, e é parte de um conglomerado dominicano, o grupo M. Os operários recebem US$ 46 por mês e trabalham vigiados por capatazes armados, segundo a denúncia do sindicato.

Histórico de repressão
Logo no início da operação da fábrica, em 2003, foi organizado um sindicato para lutar contra estes abusos. A reação foi imediata, com a demissão dos 34 ativistas que organizavam a entidade. Uma greve de dois dias fez os patrões recuarem e admitirem os operários de volta, naquela que foi a primeira vitória na zona.

De imediato, 370 operários se filiaram ao sindicato. Menos de uma semana depois, a fábrica demitiu os 370, e se começou outra luta, de mais de um ano. Os trabalhadores fizeram greves e uma campanha internacional que chegou aos EUA. Uma aliança com estudantes universitários norte-americanos possibilitou um boicote aos jeans dessas marcas. Finalmente, a empresa teve de recuar e readmitir os operários.

Proibido se aproximar
Nossa delegação foi à portaria da maquiladora Codevi. Bom, pelo menos foi essa a tentativa, já que a segurança armada da empresa não permite a aproximação de “visitantes indesejados”, como nós.

Próximo à entrada da empresa, vimos cinco barracos de madeira, sem paredes, que são os locais nos quais os seis mil trabalhadores daquela fábrica se alimentam. Registre-se: alimentam-se com a comida trazida por eles próprios.

Atravessamos a ponte que dá acesso à fábrica. A ponte fica em cima de um rio. Não pudemos avançar muito porque logo nos deparamos com vigias armados que bloqueiam o portão da Codevi e olham com cara feia quem muito se aproxima.

“Essa é a explicação econômica de toda essa ocupação haitiana. As tropas estão aqui para garantir um plano econômico que inclui o biodiesel no campo e 18 zonas francas como essas. Querem aproveitar a mão de obra em condições de quase escravidão para produzir para o mercado dos EUA, pertinho de Miami”, disse Eduardo Almeida, membro da delegação e dirigente nacional do PSTU.

Ao sairmos da frente da fábrica, rumo a Cap-Hatien (nosso local de repouso naquela noite), tivemos de aguardar as águas do rio baixarem, já que uma ponte de Ouanaminthe estava tomada pelas águas. Na espera, somente a reflexão sobre o tamanho da exploração que sofrem aqueles trabalhadores. Algo profundamente desumano.

(fotos: Wladimir de Souza e Rodrigo Correia)








domingo, 1 de julho de 2007

Delegação visita fortaleza do povo negro livre

Neste sábado, nossas atividades começaram bem cedo e, mais uma vez, terminaram muito tarde. Logo às 6 horas da manhã saímos de Cap-Hatien rumo ao forte da “Cidadela”, que foi a maior das fortalezas, de um total de 23, construídas pelos escravos negros que venceram seus opressores na revolução que terminou no início de 1804.

As imponentes construções, que ficam no planalto do Haiti, foram projetadas com as mais modernas técnicas da época, principalmente o forte da Cidadela. Seu objetivo era o de reforçar a defesa frente a um possível ataque e retorno dos franceses, seus colonizadores.

Os franceses nunca vieram, mas o papel dissuasório da Cidadela funcionou. Diz a história que um espião inimigo foi ao Haiti colher informações sobre o sistema de defesa local. Ao ver a grandeza da fortificação construída pelos negros demoveu seus superiores a tentar qualquer ação no território haitiano.

Suor e esforço
A caminhada para chegar ao forte da Cidadela não é fácil. Habitantes da vila próxima à forteleza oferecem cavalos aos turistas que querem evitar o desgaste de andar quase 40 minutos, debaixo de um sol escaldante, numa subida muito forte. É de literalmente se suar a camisa. Cheguei ao forte completamente molhado de suor, assim como os outros membros da delegação.

Conhecer este forte, que inclusive está sendo restaurado, é algo muito enriquecedor. Vendo a magnitude da construção e debatendo um pouco da história do Haiti, pensei como nossos livros escolares resumem a história dos povos da América Latina a um parágrafo ou dois. Lamentável. A trajetória da revolução negra haitiana, a primeira das Américas, é muito rica e cheia de detalhes interessantes. Um bom livro para se ler sobre esse tema é “Jacobinos Negros”, de C.L.R. James.

Pobreza
Em nossa rota de conhecimento histórico, nos deparamos, como em todos os dias de nossa jornada, com a miséria dos irmãos haitianos. São pessoas que pedem dinheiro aos turistas, lhe oferecem seus produtos artesanais e tocam instrumentos musicais em busca de alguma gorjeta que, possivelmente, lhe garantiria o pão na mesa de suas famílias.

Alguém pode se perguntar se no Brasil não ocorre a mesma situação. Responderia que sim e não. No Haiti as dimensões da pobreza são muito maiores, basta conferirmos alguns número deste tão pobre país:

- A renda per capita anual do Haiti representa 15% da média latino-americana;
- Menos de uma pessoa entre 50 tem emprego fixo;
- Menos de 40% da população têm acesso à água potável;
- O analfabetismo atinge 45% da população;
- A expectativa de vida caiu de 52,6 anos em 2002, para 49,1 anos em 2003.
- Só 24% dos partos são atendidos por pessoal qualificado;
- O país ocupa o posto 153° na classificação do IDH, de 2004. *

Ainda neste dia, nos encontramos com trabalhadores em Ouanaminhthe, cidade das “maquiladoras”, empresas que exploram os trabalhadores o quanto podem, de forma análoga à escravidão. Chegamos a passar em frente de uma, a Codevi, mas isso fica para um próximo post, assim como as histórias do bloqueio de pontes por conta das chuvas e a falta de acesso à Internet. Até lá.

* Dados colhidos pela missão de solidaridade do Jubileu / Sul

(fotos: Rodrigo Correia)

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Viagem a Cap-Haitien e a recepção calorosa dos trabalhadores

A nossa delegação saiu por volta das 8 horas da manhã (horário local), desta sexta-feira (dia 29), de Porto Príncipe em direção a Cap-Haitien. Havia muita expectativa entre os companheiros e companheiras que formam essa missão de solidariedade e, acima de tudo, luta pela retirada das tropas brasileiras do país.

Foram 230 quilômetros de estradas esburacadas, sete horas de uma cansativa viagem e imagens que marcam: crianças em condições miseráveis, pessoas tentando ganhar algum dinheiro vendendo coisas ou alimentos na rua, famílias tomando banho nos rios, lavando suas roupas neles e o esgoto a céu aberto muito próximo às moradias locais.

Em alguns momentos, o contraste ficou por conta da visão de grandes mansões e o belíssimo Mar do Caribe.

Apesar da grande situação de pobreza, fruto da exploração capitalista, algo é comum no rosto do povo haitiano. Invariavelmente, nas suas feições, demonstra-se uma alegria que parece-me inexplicável.

É um povo lutador, sem margem de dúvida. Creio que sua história deve servir como exemplo aos brasileiros. A própria expressão que eles utilizam quando perguntados como estão revela muita coisa. “Nap kenbe fein”, dizem eles. Na tradução para a língua portuguesa, seria algo como “estamos resistindo firmemente”.

No desviar dos buracos da estrada, vimos várias bases da Minustah, a missão da ONU que, sob o comando do Brasil, oprime este povo.

Das janelas do ônibus, cada membro da delegação teve a sua própria experiência com a triste face da pobreza. A minha foi a de olhar nos olhos das crianças à beira do caminho. Um olhar penetrante, que, embora muito receptivo, denuncia o que é desigualdade.

ENCONTRO COM OS TRABALHADORES
Na chegada a Cap-Haitien, um auditório, tomado por 400 trabalhadores, esperava a chegada de nossa delegação. Os companheiros, vínculado à organização “Batalha Operária”, nos recebeu com cantos operários.

Um deles, em creole (língua da maioria do povo), dizia: “Saudações. Aqui não tem patrão. Aqui não tem burguês”.

Trabalhadores rurais, sem-terra, do setor de educação e de empresas como a Coca-Cola e a cervejaria Prestigie formaram o público que tão calorosamente nos recebeu. Toda a delegação foi apresentada. A “Carta ao Povo do Haiti”, documento que se opõe a ocupação militar comandada pelo Brasil, foi lida e muito aplaudida pelos presentes.

No final do encontro, quase ao anoitecer, os trabalhadores brasileiros e haitianos dançaram juntos ritmos haitianos.

(Foto: Rodrigo Correia)

Delegação atravessará o Haiti rumo à cidade da vitória da revolução negra

Nesta sexta, a delegação da Conlutas começa uma viagem dentro do Haiti, para conhecer mais de sua história, sua gente lutadora e a exploração capitalista na nação mais pobre das Américas.

Já foi combinado que saíremos por volta das 6 horas da manhã, do horário local, rumo a Cap-Haitien, que fica na costa norte do Haiti. Cap-Haitien, que significa “Cabo Haitiano”, é a segunda maior cidade do país.

Para chegar até lá, saíremos de onde estamos, a capital Porto Príncipe, e atravessaremos o país. “Serão pelo menos cinco horas de viagem”, nos alerta Didier Domenique, da organização local “Batalha Operária”, que nos recebe nesta viagem de solidariedade.

No caminho, vamos parar para conversar com os trabalhadores rurais e conhecer de perto um pouco de sua realidade. Nas janelas do ônibus, emprestado pela universidade da capital, veremos imagens de um povo que carrega no seu DNA as características de guerreiro e lutador.

Não sabemos como será o acesso à telefonia nem tampouco à internet em Cap-Haitien. Se já estamos com imensa dificuldade em alimentar o blog por questões estruturais em Porto Príncipe, pode ser que o desafio seja ainda maior nos próximos dias. Por isso, se o blog demorar a ser atualizado, entendam nossa dificuldade, companheiros e companheiras.

Programação
Na sexta à tarde, já em Cap-Haitien, devemos falar com os trabalhadores em um auditório da cidade.

No sábado, vamos à “Citadelle”, forte construído pelos escravos depois da revolução de 1804. No mesmo dia, vamos à zona franca de Ouanaminthe. Lá, veremos a realidade dos trabalhadores que são explorados de forma análoga à escravidão. Nas zonas francas, funcionam as chamadas “maquiladoras”, multinacionais que recebem grande isenção de impostos e, em contrapartida, não oferecem aos seus trabalhadores quase nenhum direito trabalhista. Pelo contrário: são recorrentes os relatos de casos de agressão de trabalhadores, inclusive gestantes, e perseguição violenta aos líderes sindicais.

Este, na verdade, é o grande projeto que a ocupação militar da ONU quer perpetuar: tornar o Haiti uma grande zona franca, com mão-de-obra miserável e muitos lucros aos grandes capitalistas.

Na noite de sábado, deveremos voltar à Porto Príncipe.

Até breve (faltam poucas horas para partirmos)!